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…e o Seu Madruga pagou o aluguel

5 de julho de 2012 Deixe um comentário

Ontem, 04 de julho de 2012, deu-se a partida de futebol mais importante desde que a bola foi inventada.

Contra tudo e contra todos, o Sport Club Corinthians Paulista entrou no campo do Pacaembu ciente do peso que carregava nos ombros. A primeira final de Libertadores, contra o adversário mais temido pelos brasileiros. Um jogo acompanhado não apenas pelo bando de mais de 30 milhões de loucos, mas pelo universo inteiro, em êxtase, atenções monopolizadas aguardando o apito final e a consagração.

Ou a tragédia.

Sim, houve aqueles que torceram contra o povo. Torceram contra o trabalho, a seriedade, o controle. Contra a redenção. Mas, da mesma forma que o povo hebreu atravessou a pés enxutos o Mar Vermelho, o Corinthians não foi realmente ameaçado nesta final. Aliás, em toda a Libertadores, foram poucos os momentos de tensão. Resumem-se aos oito segundos, entre o lançamento errado de Alessandro, a arrancada de Diego Souza e o milagre de Cássio, no segundo jogo contra o Vasco. Paulinho tratou de enterrar qualquer dúvida minutos depois.

Claro, o time também levou um gol na Bombonera, mas o choque foi substituído pelo brilho de Romarinho que, naquele que deve ter sido seu único toque na bola em toda a Libertadores, tratou de acabar com a marra e a empáfia do Boca Juniors. Um gol de craque, com frieza, com técnica. Da mesma forma que Emerson, no Pacaembu lotado, aproveitou as oportunidades que não demos ao Boca. Dois a zero, indiscutível, inquestionável. Corinthians campeão da Libertadores.

Engraçado que meu pé-de-coelho, minha filha Helena, já viu o Corinthians ganhar um Brasileiro e uma Libertadores – mesmo sem entender muito bem o que está acontecendo. Tomara que continue dando sorte ao Timão. A baixinha dormiu cedo, não viu o jogo, mas peguei ela no colo depois da partida, dormindo com um enorme sorriso. Se eu disser com o que ela devia estar sonhando, vão dizer que sou pretensioso… Mas é bom torcer sabendo que ela está ali perto pra eu poder abraçar depois da partida!

Lembrei de (dolorosas) eliminações anteriores, quando meu amigo André Faccas e eu fanficamos como seria uma conquista do Timão. Não vou entrar em detalhes, mas basta dizer que não acertamos, nem de longe. Eliminar o vice-campeão brasileiro e campeão da Copa do Brasil, o então campeão da Libertadores e auto-proclamado “melhor time do Brasil” pra terminar a campanha derrotando o bicho-papão argentino não estava nos planos, nos sonhos ou nos fanfics. Parecia muito distante, depois de derrotas tão amargas, finalmente poder dizer que acabou a zica. Eu já vi o Corinthians ser campeão paulista, brasileiro, do Brasil, do Rio-São Paulo, mundial, de torneios que nem me lembro mais do que eram… Mas agora, acabou. Não foi o Corinthians que entrou para o “seleto grupo de campeões da Libertadores”.

É a Libertadores da América que, finalmente, foi aceita na sala de troféus do Corinthians.

Claro, ouvi muitos secadores e antis debochando do Corinthians, como se não ter sido campeão da Libertadores nos tornasse menores. Ao contrário! Como poderiam entender que precisavamos lapidar não só o elenco, mas também a torcida, para essa conquista?

Acabaram as piadas? Acabaram os chistes?

Uma que sempre ouvi em começo de Libertadores era que o Corinthians, no torneio, era igual assistir Chaves. Todo mundo já viu um monte de vezes, já sabe como termina e, mesmo assim, assiste de novo pra dar risada.

Acho que, dessa vez, o seu Madruga pagou o aluguel, então.

O final dessa história foi escrito de maneira incontestável. Um ponto final ao menosprezo dos adversários, o final feliz, não de um time com uma torcida fanática, mas de uma torcida que foi representada em campo por um time de heróis.

Em breve, teremos nosso estádio, nunca tão charmoso quanto o Pacaembu, mas muito mais moderno. Lá, voltaremos a conquistar esses títulos. É jogando em Itaquera que será ainda mais gostoso vencer o Palmeiras e conquistar outra Libertadores. Mas essa é outra história, para outra oportunidade.

A história de nossa busca pelo título da América acabou ontem, 04 de julho de 2012, e teve final feliz.

Alguém poderia imaginar de outra forma?

Acho que o Sargento Garcia também prendeu o Zorro. A vaca tussiu. Rubens Barrichello passou o Schumacher. O Coiote pegou o Papa-Léguas. Lex Luthor derrotou o Superman. Galinha tem dente. O inferno congelou. O Chinese Democracy saiu. O Brasil não está nem entre os dez melhores do ranking da Fifa. Maluf foi condenado. O Saci subiu a ladeira de skate. A Praça é Nossa ficou engraçada. O Chelsea foi campeão europeu. O Dick Vigarista ganhou a Corrida Maluca. E pegou o pombo. O Galo é bicampeão brasileiro.

Mas espera aí… Algumas dessas coisas realmente aconteceram!

Então, talvez o bando de loucos não esteja tão louco assim, afinal.

Obrigado a minha esposa Larissa, que agüentou meu ataque de nervos nos últimos, sei lá, dez dias! Obrigado a minha filha Helena, que me dá ânimo pra superar as adversidades com seu sorriso! Obrigado a todos que acompanham o blog, garanto que as atualizações voltarão a ser mais freqüentes.

E obrigado, Corinthians, por tantas alegrias! E depois dizem que a gente gosta de sofrer…

Deu nóis!

Raul, Maloqueiro, Sofredor e Campeão da América, Graças a D-us

Categorias:Corinthians, Torcida

O Dia em que a Terra Parou

4 de julho de 2012 Deixe um comentário

Peço desculpas aos leitores que acompanharam o blog ao longo do ano passado e têm voltado aqui para conferir as atualizações. A verdade é que nossas vidas estão uma correria, eu, minha esposa (e a bebê) não temos mais o mesmo tempo e disposição de antes para escrever.

Isso não significa que a gente vá parar com o blog ou que não gostemos mais de futebol, pelo contrário!

Eu mesmo estava pensando em voltar a escrever nas férias, comentando o vai-e-vem do mercado e os resultados dos campeonatos no primeiro semestre. Da última vez que atualizei o blog, André Vilas Boas estava no Chelsea, que nunca tinha sido campeão europeu; Harry Redknapp, no Tottenham, era cotado para a seleção inglesa; José Mourinho e o Real Madrid perdiam pontos preciosos no campeonato espanhol e viam o Barcelona, do técnico Guardiola, se aproximando na tabela; Milan e Juventus se alternavam na liderança do campeonato italiano; O Manchester City era um time sem lembrança de seus poucos e distantes títulos; o Paris Saint-Germain via um investimento milionário ser ameaçado pelo modesto Montpellier; o Flamengo ainda acreditava em Ronaldinho Gaúcho e sonhava com Vágner Love; o Atlético Mineiro tentava esquecer (inutilmente, é bom que se diga) a humilhação na última rodada do Brasileiro frente ao Cruzeiro, marchando a largos passos rumo ao título estadual; O São Paulo ainda sonhava com a Copa do Brasil; o Santos sonhava com o bi da Libertadores; o Palmeiras sonhava com qualquer título que viesse…

E o Corinthians…

O Corinthians ainda não tinha vencido o Palmeiras de virada, duas vezes. Não tinha derrotado o Santos de Neymar na Vila Belmiro e nunca tinha chegado a uma final de Libertadores.

Mas ver o Jornal Nacional fazendo matéria sobre a final a dois dias da decisão, ver todos os principais órgãos de imprensa dando a este jogo uma importância de final de Copa do Mundo, ouvir gritos de “vai, Corinthians!” diariamente, ver pichações exaltando a importância deste feito na história centenária do clube, ver diversos programas esportivos dedicando boa parte de suas programações ao Timão… Hoje mesmo, o Bom Dia São Paulo, Bom Dia Brasil, programa da Ana Maria Braga, Bem Estar e Fátima Bernardes estão totalmente voltados para a final! Empresas pagam anúncios desejando boa sorte, meios de comunicação manifestam apoio e a comoção em torno desse jogo aumenta exponencialmente a cada minuto!

Não é um jogo como os outros. Pra ninguém. Nem pro Corinthians, nem pros rivais, nem pro Boca Juniors. Este é um time que sabe que pode ganhar a qualquer momento, mas nem por isso entra em campo acomodado – trinta anos depois da Tragédia do Sarriá. É um time que precisou superar muita desconfiança pra chegar onde chegou, vencer adversários dentro e fora do campo, mostrar força e cabeça pra merecer tudo isso – dez anos depois da conquista do penta pela seleção.

Quem não é corinthiano podia dar o braço a torcer e admitir… Esse não é um jogo como os outros. Nunca uma final de Libertadores mobilizou a atenção de tanta gente. Audiência na TV com números comparáveis somente a uma final de Copa do Mundo. Um bando de 30 milhões de loucos sendo representados em campo por jogadores discretos, competentes, sérios, sem excessos. Estrela, só se for a de Romarinho, que entrou no final do primeiro jogo pra mudar o destino da Libertadores. Só se for a de Tite, que parece fazer sempre a alteração certa no time (como fez ano passado, durante o Brasileiro, com Adriano e Luis Ramirez). Um time que vem sendo forjado e lapidado para este momento desde a indigesta eliminação para o Tolima, em 2011. Jogadores que aprenderam a colocar os pés no chão e controlar o ritmo das partidas, o espírito, a intensidade do adversário, mesmo quando não tem a posse de bola. O Corinthians é atacado até onde permite, e seu contra-golpe costuma ser fatal. Vantagens mínimas garantiram a classificação, mas o Timão não foi realmente ameaçado, jamais perdeu as rédeas da situação. O Corinthians de Cássio, que deu outra moral para a defesa, de Alessandro, Chicão, Leandro Castán e Fábio Santos, absolutos na defesa, do gigante Ralf e do monstro Paulinho, do genial Danilo que, quando não é decisivo, ajuda os outros a serem. O Corinthians da precisão de Alex, da malícia de Emerson, da vontade de Jorge Henrique, Liédson e Willian. O Corinthians de Romarinho, nosso fio de esperança no momento mais terrível do campeonato. O Corinthians de Tite que, expulso de campo, acompanhou o jogo junto da Fiel.

Quantas histórias nessa campanha, quantos heróis, quantas pequenas vitórias aguardando a coroação.

Quando a bola começar a rolar no mais corinthiano dos estádios, não é só a Fiel que vai torcer. Não é só o Brasil que vai parar.

Podem escrever: o dia 4 de julho de 2012 será lembrado como o dia em que a Terra parou.

Parou pra ver o Corinthians.

E aquele instante infinito em que a bola sai dos pés do atacante para estufar as redes durará um século de história. Nunca tantos prenderão o fôlego por tanto tempo, nunca antes o grito de gol pode ser ouvido até no espaço. São Jorge estará lá, na área técnica, junto de Deus, de anjos e demônios, gritando e pedindo raça. Não se fará outra coisa, não se falará em outra coisa. Nenhum coração baterá num ritmo que não seja o das arquibancadas. Nenhum coração ouvirá impassível o apito final.

Podem falar que humildade não é nosso forte – nisso, todas as torcidas são iguais. Podem falar que somos chatos quanto ganhamos – nisso, todas as torcidas também são iguais. Podem falar que não temos Libertadores, que não temos estádio, que não temos grandes jogadores, que nossos ídolos são Tupãzinho, Basílio e Wladimir, que não temos tantas conquistas, que não temos tantas vitórias.

Nós temos histórias. Milhares delas.

“Estive lá quando precisaram de mim”. “Sempre acreditei”. “Perdemos, mas não parei de gritar”. “Fui em todos os jogos”. “Viajei pra outros estados”. “Foi rebaixado e continuei cantando”. “Vi todos os títulos da era Marcelinho“. “Peguei a camisa do Neto“. “Imitei as embaixadinhas do Edílson“.

“Nem pisquei naquele dia 4 de julho”.

Até mesmo os detratores têm suas histórias sobre o Corinthians. Aquela torcida que não tem time, não tem nome, não tem bandeira, exceto torcer contra o Coringão. É a única coisa que têm em comum. Mas, mesmo nos nossos piores momentos, não são maiores que nós. Nenhuma time tem essa torcida, que merece ser chamada de FIEL. Mas essa torcida tem um time que encarna esse espírito.

E isso não cabe em nenhuma sala de troféus.

Mesmo assim, esperamos pela Libertadores. Depois disso, a Terra pode voltar a girar. É nosso final feliz pra mais uma história.

É a vida que segue.

E assim por diante.

VAI, CORINTHIANS!

São Jorge estará no Pacaembu, mas a Lua está pronta para a festa!

Raul, hoje mais do que nunca CORINTHIANO, MALOQUEIRO E SOFREDOR, GRAÇAS A D-US!

Categorias:Corinthians, Torcida