Inicial > Corinthians, Torcida > O Dia em que a Terra Parou

O Dia em que a Terra Parou

Peço desculpas aos leitores que acompanharam o blog ao longo do ano passado e têm voltado aqui para conferir as atualizações. A verdade é que nossas vidas estão uma correria, eu, minha esposa (e a bebê) não temos mais o mesmo tempo e disposição de antes para escrever.

Isso não significa que a gente vá parar com o blog ou que não gostemos mais de futebol, pelo contrário!

Eu mesmo estava pensando em voltar a escrever nas férias, comentando o vai-e-vem do mercado e os resultados dos campeonatos no primeiro semestre. Da última vez que atualizei o blog, André Vilas Boas estava no Chelsea, que nunca tinha sido campeão europeu; Harry Redknapp, no Tottenham, era cotado para a seleção inglesa; José Mourinho e o Real Madrid perdiam pontos preciosos no campeonato espanhol e viam o Barcelona, do técnico Guardiola, se aproximando na tabela; Milan e Juventus se alternavam na liderança do campeonato italiano; O Manchester City era um time sem lembrança de seus poucos e distantes títulos; o Paris Saint-Germain via um investimento milionário ser ameaçado pelo modesto Montpellier; o Flamengo ainda acreditava em Ronaldinho Gaúcho e sonhava com Vágner Love; o Atlético Mineiro tentava esquecer (inutilmente, é bom que se diga) a humilhação na última rodada do Brasileiro frente ao Cruzeiro, marchando a largos passos rumo ao título estadual; O São Paulo ainda sonhava com a Copa do Brasil; o Santos sonhava com o bi da Libertadores; o Palmeiras sonhava com qualquer título que viesse…

E o Corinthians…

O Corinthians ainda não tinha vencido o Palmeiras de virada, duas vezes. Não tinha derrotado o Santos de Neymar na Vila Belmiro e nunca tinha chegado a uma final de Libertadores.

Mas ver o Jornal Nacional fazendo matéria sobre a final a dois dias da decisão, ver todos os principais órgãos de imprensa dando a este jogo uma importância de final de Copa do Mundo, ouvir gritos de “vai, Corinthians!” diariamente, ver pichações exaltando a importância deste feito na história centenária do clube, ver diversos programas esportivos dedicando boa parte de suas programações ao Timão… Hoje mesmo, o Bom Dia São Paulo, Bom Dia Brasil, programa da Ana Maria Braga, Bem Estar e Fátima Bernardes estão totalmente voltados para a final! Empresas pagam anúncios desejando boa sorte, meios de comunicação manifestam apoio e a comoção em torno desse jogo aumenta exponencialmente a cada minuto!

Não é um jogo como os outros. Pra ninguém. Nem pro Corinthians, nem pros rivais, nem pro Boca Juniors. Este é um time que sabe que pode ganhar a qualquer momento, mas nem por isso entra em campo acomodado – trinta anos depois da Tragédia do Sarriá. É um time que precisou superar muita desconfiança pra chegar onde chegou, vencer adversários dentro e fora do campo, mostrar força e cabeça pra merecer tudo isso – dez anos depois da conquista do penta pela seleção.

Quem não é corinthiano podia dar o braço a torcer e admitir… Esse não é um jogo como os outros. Nunca uma final de Libertadores mobilizou a atenção de tanta gente. Audiência na TV com números comparáveis somente a uma final de Copa do Mundo. Um bando de 30 milhões de loucos sendo representados em campo por jogadores discretos, competentes, sérios, sem excessos. Estrela, só se for a de Romarinho, que entrou no final do primeiro jogo pra mudar o destino da Libertadores. Só se for a de Tite, que parece fazer sempre a alteração certa no time (como fez ano passado, durante o Brasileiro, com Adriano e Luis Ramirez). Um time que vem sendo forjado e lapidado para este momento desde a indigesta eliminação para o Tolima, em 2011. Jogadores que aprenderam a colocar os pés no chão e controlar o ritmo das partidas, o espírito, a intensidade do adversário, mesmo quando não tem a posse de bola. O Corinthians é atacado até onde permite, e seu contra-golpe costuma ser fatal. Vantagens mínimas garantiram a classificação, mas o Timão não foi realmente ameaçado, jamais perdeu as rédeas da situação. O Corinthians de Cássio, que deu outra moral para a defesa, de Alessandro, Chicão, Leandro Castán e Fábio Santos, absolutos na defesa, do gigante Ralf e do monstro Paulinho, do genial Danilo que, quando não é decisivo, ajuda os outros a serem. O Corinthians da precisão de Alex, da malícia de Emerson, da vontade de Jorge Henrique, Liédson e Willian. O Corinthians de Romarinho, nosso fio de esperança no momento mais terrível do campeonato. O Corinthians de Tite que, expulso de campo, acompanhou o jogo junto da Fiel.

Quantas histórias nessa campanha, quantos heróis, quantas pequenas vitórias aguardando a coroação.

Quando a bola começar a rolar no mais corinthiano dos estádios, não é só a Fiel que vai torcer. Não é só o Brasil que vai parar.

Podem escrever: o dia 4 de julho de 2012 será lembrado como o dia em que a Terra parou.

Parou pra ver o Corinthians.

E aquele instante infinito em que a bola sai dos pés do atacante para estufar as redes durará um século de história. Nunca tantos prenderão o fôlego por tanto tempo, nunca antes o grito de gol pode ser ouvido até no espaço. São Jorge estará lá, na área técnica, junto de Deus, de anjos e demônios, gritando e pedindo raça. Não se fará outra coisa, não se falará em outra coisa. Nenhum coração baterá num ritmo que não seja o das arquibancadas. Nenhum coração ouvirá impassível o apito final.

Podem falar que humildade não é nosso forte – nisso, todas as torcidas são iguais. Podem falar que somos chatos quanto ganhamos – nisso, todas as torcidas também são iguais. Podem falar que não temos Libertadores, que não temos estádio, que não temos grandes jogadores, que nossos ídolos são Tupãzinho, Basílio e Wladimir, que não temos tantas conquistas, que não temos tantas vitórias.

Nós temos histórias. Milhares delas.

“Estive lá quando precisaram de mim”. “Sempre acreditei”. “Perdemos, mas não parei de gritar”. “Fui em todos os jogos”. “Viajei pra outros estados”. “Foi rebaixado e continuei cantando”. “Vi todos os títulos da era Marcelinho“. “Peguei a camisa do Neto“. “Imitei as embaixadinhas do Edílson“.

“Nem pisquei naquele dia 4 de julho”.

Até mesmo os detratores têm suas histórias sobre o Corinthians. Aquela torcida que não tem time, não tem nome, não tem bandeira, exceto torcer contra o Coringão. É a única coisa que têm em comum. Mas, mesmo nos nossos piores momentos, não são maiores que nós. Nenhuma time tem essa torcida, que merece ser chamada de FIEL. Mas essa torcida tem um time que encarna esse espírito.

E isso não cabe em nenhuma sala de troféus.

Mesmo assim, esperamos pela Libertadores. Depois disso, a Terra pode voltar a girar. É nosso final feliz pra mais uma história.

É a vida que segue.

E assim por diante.

VAI, CORINTHIANS!

São Jorge estará no Pacaembu, mas a Lua está pronta para a festa!

Raul, hoje mais do que nunca CORINTHIANO, MALOQUEIRO E SOFREDOR, GRAÇAS A D-US!

Categorias:Corinthians, Torcida
  1. Nenhum comentário ainda.
  1. No trackbacks yet.

Deixar um Balido