…e o Seu Madruga pagou o aluguel

5 de julho de 2012 Deixe um comentário

Ontem, 04 de julho de 2012, deu-se a partida de futebol mais importante desde que a bola foi inventada.

Contra tudo e contra todos, o Sport Club Corinthians Paulista entrou no campo do Pacaembu ciente do peso que carregava nos ombros. A primeira final de Libertadores, contra o adversário mais temido pelos brasileiros. Um jogo acompanhado não apenas pelo bando de mais de 30 milhões de loucos, mas pelo universo inteiro, em êxtase, atenções monopolizadas aguardando o apito final e a consagração.

Ou a tragédia.

Sim, houve aqueles que torceram contra o povo. Torceram contra o trabalho, a seriedade, o controle. Contra a redenção. Mas, da mesma forma que o povo hebreu atravessou a pés enxutos o Mar Vermelho, o Corinthians não foi realmente ameaçado nesta final. Aliás, em toda a Libertadores, foram poucos os momentos de tensão. Resumem-se aos oito segundos, entre o lançamento errado de Alessandro, a arrancada de Diego Souza e o milagre de Cássio, no segundo jogo contra o Vasco. Paulinho tratou de enterrar qualquer dúvida minutos depois.

Claro, o time também levou um gol na Bombonera, mas o choque foi substituído pelo brilho de Romarinho que, naquele que deve ter sido seu único toque na bola em toda a Libertadores, tratou de acabar com a marra e a empáfia do Boca Juniors. Um gol de craque, com frieza, com técnica. Da mesma forma que Emerson, no Pacaembu lotado, aproveitou as oportunidades que não demos ao Boca. Dois a zero, indiscutível, inquestionável. Corinthians campeão da Libertadores.

Engraçado que meu pé-de-coelho, minha filha Helena, já viu o Corinthians ganhar um Brasileiro e uma Libertadores – mesmo sem entender muito bem o que está acontecendo. Tomara que continue dando sorte ao Timão. A baixinha dormiu cedo, não viu o jogo, mas peguei ela no colo depois da partida, dormindo com um enorme sorriso. Se eu disser com o que ela devia estar sonhando, vão dizer que sou pretensioso… Mas é bom torcer sabendo que ela está ali perto pra eu poder abraçar depois da partida!

Lembrei de (dolorosas) eliminações anteriores, quando meu amigo André Faccas e eu fanficamos como seria uma conquista do Timão. Não vou entrar em detalhes, mas basta dizer que não acertamos, nem de longe. Eliminar o vice-campeão brasileiro e campeão da Copa do Brasil, o então campeão da Libertadores e auto-proclamado “melhor time do Brasil” pra terminar a campanha derrotando o bicho-papão argentino não estava nos planos, nos sonhos ou nos fanfics. Parecia muito distante, depois de derrotas tão amargas, finalmente poder dizer que acabou a zica. Eu já vi o Corinthians ser campeão paulista, brasileiro, do Brasil, do Rio-São Paulo, mundial, de torneios que nem me lembro mais do que eram… Mas agora, acabou. Não foi o Corinthians que entrou para o “seleto grupo de campeões da Libertadores”.

É a Libertadores da América que, finalmente, foi aceita na sala de troféus do Corinthians.

Claro, ouvi muitos secadores e antis debochando do Corinthians, como se não ter sido campeão da Libertadores nos tornasse menores. Ao contrário! Como poderiam entender que precisavamos lapidar não só o elenco, mas também a torcida, para essa conquista?

Acabaram as piadas? Acabaram os chistes?

Uma que sempre ouvi em começo de Libertadores era que o Corinthians, no torneio, era igual assistir Chaves. Todo mundo já viu um monte de vezes, já sabe como termina e, mesmo assim, assiste de novo pra dar risada.

Acho que, dessa vez, o seu Madruga pagou o aluguel, então.

O final dessa história foi escrito de maneira incontestável. Um ponto final ao menosprezo dos adversários, o final feliz, não de um time com uma torcida fanática, mas de uma torcida que foi representada em campo por um time de heróis.

Em breve, teremos nosso estádio, nunca tão charmoso quanto o Pacaembu, mas muito mais moderno. Lá, voltaremos a conquistar esses títulos. É jogando em Itaquera que será ainda mais gostoso vencer o Palmeiras e conquistar outra Libertadores. Mas essa é outra história, para outra oportunidade.

A história de nossa busca pelo título da América acabou ontem, 04 de julho de 2012, e teve final feliz.

Alguém poderia imaginar de outra forma?

Acho que o Sargento Garcia também prendeu o Zorro. A vaca tussiu. Rubens Barrichello passou o Schumacher. O Coiote pegou o Papa-Léguas. Lex Luthor derrotou o Superman. Galinha tem dente. O inferno congelou. O Chinese Democracy saiu. O Brasil não está nem entre os dez melhores do ranking da Fifa. Maluf foi condenado. O Saci subiu a ladeira de skate. A Praça é Nossa ficou engraçada. O Chelsea foi campeão europeu. O Dick Vigarista ganhou a Corrida Maluca. E pegou o pombo. O Galo é bicampeão brasileiro.

Mas espera aí… Algumas dessas coisas realmente aconteceram!

Então, talvez o bando de loucos não esteja tão louco assim, afinal.

Obrigado a minha esposa Larissa, que agüentou meu ataque de nervos nos últimos, sei lá, dez dias! Obrigado a minha filha Helena, que me dá ânimo pra superar as adversidades com seu sorriso! Obrigado a todos que acompanham o blog, garanto que as atualizações voltarão a ser mais freqüentes.

E obrigado, Corinthians, por tantas alegrias! E depois dizem que a gente gosta de sofrer…

Deu nóis!

Raul, Maloqueiro, Sofredor e Campeão da América, Graças a D-us

Categorias:Corinthians, Torcida

O Dia em que a Terra Parou

4 de julho de 2012 Deixe um comentário

Peço desculpas aos leitores que acompanharam o blog ao longo do ano passado e têm voltado aqui para conferir as atualizações. A verdade é que nossas vidas estão uma correria, eu, minha esposa (e a bebê) não temos mais o mesmo tempo e disposição de antes para escrever.

Isso não significa que a gente vá parar com o blog ou que não gostemos mais de futebol, pelo contrário!

Eu mesmo estava pensando em voltar a escrever nas férias, comentando o vai-e-vem do mercado e os resultados dos campeonatos no primeiro semestre. Da última vez que atualizei o blog, André Vilas Boas estava no Chelsea, que nunca tinha sido campeão europeu; Harry Redknapp, no Tottenham, era cotado para a seleção inglesa; José Mourinho e o Real Madrid perdiam pontos preciosos no campeonato espanhol e viam o Barcelona, do técnico Guardiola, se aproximando na tabela; Milan e Juventus se alternavam na liderança do campeonato italiano; O Manchester City era um time sem lembrança de seus poucos e distantes títulos; o Paris Saint-Germain via um investimento milionário ser ameaçado pelo modesto Montpellier; o Flamengo ainda acreditava em Ronaldinho Gaúcho e sonhava com Vágner Love; o Atlético Mineiro tentava esquecer (inutilmente, é bom que se diga) a humilhação na última rodada do Brasileiro frente ao Cruzeiro, marchando a largos passos rumo ao título estadual; O São Paulo ainda sonhava com a Copa do Brasil; o Santos sonhava com o bi da Libertadores; o Palmeiras sonhava com qualquer título que viesse…

E o Corinthians…

O Corinthians ainda não tinha vencido o Palmeiras de virada, duas vezes. Não tinha derrotado o Santos de Neymar na Vila Belmiro e nunca tinha chegado a uma final de Libertadores.

Mas ver o Jornal Nacional fazendo matéria sobre a final a dois dias da decisão, ver todos os principais órgãos de imprensa dando a este jogo uma importância de final de Copa do Mundo, ouvir gritos de “vai, Corinthians!” diariamente, ver pichações exaltando a importância deste feito na história centenária do clube, ver diversos programas esportivos dedicando boa parte de suas programações ao Timão… Hoje mesmo, o Bom Dia São Paulo, Bom Dia Brasil, programa da Ana Maria Braga, Bem Estar e Fátima Bernardes estão totalmente voltados para a final! Empresas pagam anúncios desejando boa sorte, meios de comunicação manifestam apoio e a comoção em torno desse jogo aumenta exponencialmente a cada minuto!

Não é um jogo como os outros. Pra ninguém. Nem pro Corinthians, nem pros rivais, nem pro Boca Juniors. Este é um time que sabe que pode ganhar a qualquer momento, mas nem por isso entra em campo acomodado – trinta anos depois da Tragédia do Sarriá. É um time que precisou superar muita desconfiança pra chegar onde chegou, vencer adversários dentro e fora do campo, mostrar força e cabeça pra merecer tudo isso – dez anos depois da conquista do penta pela seleção.

Quem não é corinthiano podia dar o braço a torcer e admitir… Esse não é um jogo como os outros. Nunca uma final de Libertadores mobilizou a atenção de tanta gente. Audiência na TV com números comparáveis somente a uma final de Copa do Mundo. Um bando de 30 milhões de loucos sendo representados em campo por jogadores discretos, competentes, sérios, sem excessos. Estrela, só se for a de Romarinho, que entrou no final do primeiro jogo pra mudar o destino da Libertadores. Só se for a de Tite, que parece fazer sempre a alteração certa no time (como fez ano passado, durante o Brasileiro, com Adriano e Luis Ramirez). Um time que vem sendo forjado e lapidado para este momento desde a indigesta eliminação para o Tolima, em 2011. Jogadores que aprenderam a colocar os pés no chão e controlar o ritmo das partidas, o espírito, a intensidade do adversário, mesmo quando não tem a posse de bola. O Corinthians é atacado até onde permite, e seu contra-golpe costuma ser fatal. Vantagens mínimas garantiram a classificação, mas o Timão não foi realmente ameaçado, jamais perdeu as rédeas da situação. O Corinthians de Cássio, que deu outra moral para a defesa, de Alessandro, Chicão, Leandro Castán e Fábio Santos, absolutos na defesa, do gigante Ralf e do monstro Paulinho, do genial Danilo que, quando não é decisivo, ajuda os outros a serem. O Corinthians da precisão de Alex, da malícia de Emerson, da vontade de Jorge Henrique, Liédson e Willian. O Corinthians de Romarinho, nosso fio de esperança no momento mais terrível do campeonato. O Corinthians de Tite que, expulso de campo, acompanhou o jogo junto da Fiel.

Quantas histórias nessa campanha, quantos heróis, quantas pequenas vitórias aguardando a coroação.

Quando a bola começar a rolar no mais corinthiano dos estádios, não é só a Fiel que vai torcer. Não é só o Brasil que vai parar.

Podem escrever: o dia 4 de julho de 2012 será lembrado como o dia em que a Terra parou.

Parou pra ver o Corinthians.

E aquele instante infinito em que a bola sai dos pés do atacante para estufar as redes durará um século de história. Nunca tantos prenderão o fôlego por tanto tempo, nunca antes o grito de gol pode ser ouvido até no espaço. São Jorge estará lá, na área técnica, junto de Deus, de anjos e demônios, gritando e pedindo raça. Não se fará outra coisa, não se falará em outra coisa. Nenhum coração baterá num ritmo que não seja o das arquibancadas. Nenhum coração ouvirá impassível o apito final.

Podem falar que humildade não é nosso forte – nisso, todas as torcidas são iguais. Podem falar que somos chatos quanto ganhamos – nisso, todas as torcidas também são iguais. Podem falar que não temos Libertadores, que não temos estádio, que não temos grandes jogadores, que nossos ídolos são Tupãzinho, Basílio e Wladimir, que não temos tantas conquistas, que não temos tantas vitórias.

Nós temos histórias. Milhares delas.

“Estive lá quando precisaram de mim”. “Sempre acreditei”. “Perdemos, mas não parei de gritar”. “Fui em todos os jogos”. “Viajei pra outros estados”. “Foi rebaixado e continuei cantando”. “Vi todos os títulos da era Marcelinho“. “Peguei a camisa do Neto“. “Imitei as embaixadinhas do Edílson“.

“Nem pisquei naquele dia 4 de julho”.

Até mesmo os detratores têm suas histórias sobre o Corinthians. Aquela torcida que não tem time, não tem nome, não tem bandeira, exceto torcer contra o Coringão. É a única coisa que têm em comum. Mas, mesmo nos nossos piores momentos, não são maiores que nós. Nenhuma time tem essa torcida, que merece ser chamada de FIEL. Mas essa torcida tem um time que encarna esse espírito.

E isso não cabe em nenhuma sala de troféus.

Mesmo assim, esperamos pela Libertadores. Depois disso, a Terra pode voltar a girar. É nosso final feliz pra mais uma história.

É a vida que segue.

E assim por diante.

VAI, CORINTHIANS!

São Jorge estará no Pacaembu, mas a Lua está pronta para a festa!

Raul, hoje mais do que nunca CORINTHIANO, MALOQUEIRO E SOFREDOR, GRAÇAS A D-US!

Categorias:Corinthians, Torcida

Perspectiva 2012

5 de fevereiro de 2012 1 comentário

Os estaduais já começaram, as contratações continuam agitando os clubes, a Seleção Brasileira marcou mais amistosos, a Copa São Paulo mais empolgante de todos os tempos teve uma final sensacional entre Corinthians e Fluminense e… o blog ficou um tempinho parado. Perdi bastante coisa, por conta do trabalho ou da mudança (vou sair da Dubai da Zona Leste este mês), mas não deixei de acompanhar futebol. Como minha memória não é das melhores, abdiquei de escrever uma retrospectiva de 2011 e resolvi focar em algumas coisas que devem acontecer durante os próximos 11 meses.

No futebol paulista, o Palmeiras parece fadado a continuar atrás dos rivais. Com Scollari, Galeano e César Sampaio mais fortes à frente do futebol (e o enfraquecimento do vice de futebol Roberto Frizzo), o torcedor pode, pelo menos, esperar menos vexames. A aposentadoria de São Marcos parece ter unido os palmeirenses, que querem voltar a comemorar títulos e estão apoiando Felipão. Valdívia tem demonstrado comprometimento e as contratações, ainda que minguadas, estão chegando. É pouco para brigar por títulos, mas talvez seja o suficiente pra não ser mais motivo de piada.

O São Paulo contratou surpreendentemente bem e bastante – o presidente Juvenal Juvêncio está abrindo os cofres para fortalecer a equipe, dispensou jogadores e não quer mais saber daquela equipe apática de 2011. A contusão de Rogério Ceni foi um duro golpe para o torcedor são-paulino, mas resta saber se as contratações vão vingar. Cortez e Jadson são incógnitas: o primeiro, teve apenas um primeiro semestre muito bom e atuações animadoras pela Seleção. O segundo está longe de ser um craque. Mas prometem dar uma nova cara ao time, principalmente se Nilmar realmente chegar ao Morumbi.

O Santos fez o mais importante: manteve o melhor jogador do mundo na atualiadade em seu elenco. Neymar sabe, porém, que só será reconhecido como tal jogando na Europa. Será que ele aguenta esperar até 2014 pra fazer as malas? Já Paulo Henrique Ganso, quando não está envolvido em alguma polêmica com a diretoria, está no departamento médico. Me parece que seria melhor pra todo mundo se ele fosse para a Europa, assim não ficaria insatisfeito no clube que o revelou. O Peixe, mais uma vez, é favorito nos títulos que disputar.

O Corinthians também manteve o elenco campeão brasileiro, fez algumas contratações pontuais questionáveis (o goleiro Cássio, o chinês de nome engraçado e o atacante Gilsinho, que estava no Japão), outras muito boas (o zagueiro Felipe, o atacante Elton e o meia Vitor Junior) e o meia Douglas, que continua querido por boa parte da torcida. O atual time do Corinthians é muito estável, o que dá vantagem em uma competição de pontos corridos, mas não sei se é capaz de se comportar bem no mata-mata da Libertadores, considerando a má fase do lateral-direito Alessandro, não ter reservas à altura para Ralf e Paulinho, além de só poder contar com Adriano em dia de churrasco. O jeito é continuar ganhando os jogos de 1 a zero ou 2 a 1, se possível de virada. Até na final da Copinha foi assim.

O Imperador, contudo, pode estar com os dias contados no Parque São Jorge. Até Andrés Sanches já admitiu que sua contratação foi um erro. Até a chegada de Douglas foi motivo para a torcida se mobilizar e pedir que a camisa 10 fique com o meia, e não com o atacante. Sem ser relacionado para os primeiros jogos do Paulista, Adriano pode ficar até de fora da lista de inscritos para a Libertadores. Claramente, ele está com a cabeça em outro lugar – que todos sabem qual é.

A chegada de Vágner Love ao Flamengo é um exemplo claro de como a atual administração do rubro-negro é péssima: presidente de clube fazendo dancinha, salários atrasados, Ronaldinho só treina quando quer, técnico contratado antes de demitir o dono do cargo, elenco entrando em campo sabendo que o técnico seria demitido… Perderam Thiago Neves para o rival Fluminense, contrataram Love por 10 milhões de euros e não têm dinheiro para pagar os salários. Até quando acham que vai durar? A demissão de Vanderlei Luxemburgo, depois de a presidente ter negado, acusado a imprensa de querer derrubá-la e acusado o presidente do Fluminense de “falta de ética” na negociação com Thiago Neves, escancarou os podres da administração Patricia Amorim, uma das piores da história do Flamengo. E olha que a concorrência é brava na Gávea!

Por falar em má administração, parece que Zezé Perrela saiu do Cruzeiro mas levou o cofre junto. Salário atrasado, no Cruzeiro, é algo que nunca pensei em ouvir, pois o clube sempre foi tido como modelo de organização. Se começar a perder terreno para o rival Atlético fora de campo, é questão de tempo para que seja superado dentro de campo também. O atual presidente, Gilvan de Pinho Tavares, parece disposto a fazer um trabalho sério, mas vai ficar difícil se depender de varrer a sujeira do Perrela pra debaixo do tapete. O interesse do Corinthians em Montillo, por exemplo, não morreu. Fábio, goleiro e capitão da equipe mineira, já declarou que seria melhor para o craque ir para o Timão, considerando o salário milionário que foi oferecido. Roger, meia, fez mais do que isso: deixou vazar a informação de que os salários estão atrasados na Raposa. Se conseguirem convencer o presidente, deixarão o Timão muito forte. Caso contrário, passam o abacaxi para o presidente cruzeirense: pagar os atrasados do elenco e dar um aumento que satisfaça o craque argentino, sem incomodar o restante do elenco. Danilo pode ser envolvido na negociação, que deve ficar só para depois das eleições para presidente no Timão.

A sorte do Cruzeiro é ter como maior rival um time que vive uma fase tão ruim que é capaz dos problemas da Raposa ficarem esquecidos após a primeira goleada em cima do Atlético. É praticamente o Real x Barça de Minas, guardadas as devidas proporções.

Por falar nos espanhóis, parece que Mourinho vai continuar tendo problemas para enfrentar o atual time da moda. O Real muda, mexe, treina, tenta, corre, marca… e não ganha. A fase atual do time catalão nem é tão boa assim, mas ganhar dos merengues é obrigação. Após a eliminação na Copa do Rei, Mourinho joga tudo na Liga dos Campeões e no Campeonato Espanhol – torneios em que ele parece ter reabilitado o Real, apesar da dificuldade psicológica em superar os blaugraná.

Na Inglaterra, os rivais de Manchester estão se engalfinhando pelo título, com o Tottenham correndo por fora. Resta saber quem mais conseguirá vaga na Liga dos Campeões: Chelsea, Arsenal ou Liverpool. Tudo leva a crer que o City vai sair da longa fila de mais de 40 anos (ou seriam 50?) sem título. Bom para Manchester, bom para o futebol inglês e bom para Roberto Mancini, eleito técnico mais elegante do mundo aqui no blog. O prêmio de jogador mais elegante foi para Lionel Messi, pelo belo terno usado na entrega do prêmio da FIFA (que não é tão criterioso quanto este blog).

E fico aqui na expectativa de grandes jogos, belos gols, contratações de impacto e, quem sabe, medalha de ouro para a Seleção Brasileira na Olimpíada de Londres. Pode ser a chance derradeira de Mano Menezes à frente do Brasil, mas parece que nem ele acredita mais em seu projeto para 2014. Ainda há tempo de mudar, mas a grande questão agora é quem poderia ser o novo treinador. Quem sabe se o Mourinho sair do Real ele não topa?

Mourinho: amargurado

Raul, Maloqueiro e Sofredor, Graças a D-us

O Goleiro

9 de janeiro de 2012 Deixe um comentário

Confesso que me emocionei com a aposentadoria de Ronaldo.

Vi o Fenômeno nas copas de 94 (como mero coadjuvante de Romário, Bebeto e até do Viola), 98, 2002 e 2006. Marcou o mais belo gol da história do futebol (o primeiro com a camisa do Timão, contra o Palmeiras, que foi capaz até de derrubar um dos alambrados do estádio em Presidente Prudente), caiu muitas vezes, mas sempre se levantou, levantando com ele milhões de brasileiros de todos os clubes.

Me emocionei de maneira parecida com a aposentadoria do goleiro Marcos.

O São Marcos, de simplicidade ímpar, sempre foi uma figura agradável e divertida em meio ao monte de mascarados do futebol. O melhor goleiro que já vi jogar, alçado mais que justamente à condição de titular por Felipão na Seleção Brasileira de 2002, idolatrado pela torcida, respeitado pelos rivais. Amou o Palmeiras a ponto de recusar proposta milionária do Arsenal, a ponto de não abandonar o barco que naufragou para a Série B, a ponto de dar a cara a tapa mesmo nas derrotas mais humilhantes e, como poucos, saber vencer sem, para isso, tripudiar do adversário.

Não é pouco.

Em minha coleção de camisas, eu tenho peças do São Caetano, Ponte Preta, Grêmio, Inter-RS, Vitória-BA, Ceará, ABC de Natal, ASA de Arapiraca, Boa Esporte, Sport Recife, Flamengo, Cruzeiro, Figueirense, Atlético-PR e de alguns clubes europeus. Mas sou um corinthiano que admite: falta uma do Marcos (que eu jamais usaria, é bom frisar!), mas poucas pessoas no futebol eu admirei tanto quanto ele. Para poucos “profissionais” eu pediria um autógrafo, mesmo do Corinthians.

Mas uma camisa autografada por ele seria uma lembrança para mostrar para minha filha e dizer: “Era o melhor goleiro do mundo. Ainda bem que parou, ou ia ser muito difícil continuar fazendo gols no Palmeiras”. E olha que não foram poucas as vezes que ele “ferrou” meu Corinthians.

A única coisa que me chateia é ler alguma nota a respeito de sua aposentadoria e ver lá coisas como “o agora ex-goleiro”. Ele pode ser ex-atleta profissional, ex-jogador do Palmeiras, mas ex-goleiro ele não é.

Ele é O Goleiro, por Excelência.

O futebol fica um pouco mais pobre sem você, Marcão! Seja feliz!

Raul, Maloqueiro e Sofredor, Graças a D-us

Categorias:Torcida

Rock the Soccer

27 de dezembro de 2011 Deixe um comentário

Com o fim do Campeonato Brasileiro, as notícias sobre futebol mudam completamente de foco, passando por contratações até escândalos (*cof*cof*Adriano*cof*). Eu não gosto de falar sobre os escândalos, afinal os jornais estão cheios deles em qualquer época do ano e não é realmente minha prioridade para o blog. Sobre as contratações, prefiro esperar o fim da janela para comentar de forma mais ampla sobre quem realmente chegou ou saiu, do que ficar especulando o que pode ou não acontecer.

Assim, resolvi aproveitar pra falar sobre a relação entre futebol e uma de minhas paixões.

(Não, não é sobre revistas em quadrinhos. Volto a esse assunto quando a Marvel lançar um gibi do Ibrahimovic.)

Sou fã de rock and roll desde… Bom, desde sempre, eu acho. Lembro de, ainda criança, ficar impressionado com as cenas dos shows do Kiss e do Alice Cooper. Claro que, com quatro ou cinco anos de idade, o que marca é o visual, muito mais do que a música. Meu pai é um grande fã dos Beatles, The Ventures, Creedence, Rolling Stones, Elvis. Sempre tive a música deles por perto. Mas foi só no final de 1990, quando a Globo começou a divulgar o segundo Rock in Rio, que eu fui fisgado. Um amigo da minha irmã apareceu em casa pra gravar um disco de uma banda chamada Guns n’ Roses. A capa era uma ilustração magnífica, HQ total, com um robô que, aparentemente, tinha violentado uma ambulante prestes a ser atacado por um monstro com facas no lugar dos dentes. A foto da banda, no verso, mostrava cinco caras obviamente pra lá de bêbados.

A música foi um capítulo à parte. Aos primeiros acordes de Welcome to the Jungle, a faixa de abertura, identifiquei o tema do Rock in Rio que a Rede Globo usava. “Se a música deles é o tema do festival, então devem ser a atração principal”, pensei. Se tornaram minha banda preferida, não só pela música, mas também pelas controversas atitudes de seus membros.

Naquele ano, assisti pela TV não só os excelentes shows do Guns, carregados de adrenalina, como também o Judas Priest, com suas roupas de couro, a fúria thrash metal do Megadeth no seu auge, o heavy metal mais tradicional do Queensryche e a mistura bem equilibrada (musicalmente falando) do Faith no More. Mais tarde, conheci Black Sabbath, Iron Maiden, King Diamond, além de descobrir a música de Kiss e Alice Cooper, e não apenas o visual.

É bem clichê quando tentamos relacionar música e futebol no Brasil pensarmos em pagode, ou sertanejo. Muitos jogadores ajudam a empresariar, ou até mesmo participam de grupos musicais. O capetinha Edílson é empresário de um grupo, Amaral chegou a tocar cavaquinho em outro e Marcelinho Carioca participou da criação de um grupo de pagode de uma igreja protestante da qual era membro.

E o rock and roll? Bom, há alguns exemplos bastante interessantes. O goleiro tricolor Rogério Ceni, por exemplo, entrou em campo para sua milésima partida com a camisa do São Paulo ao som de Hell’s Bells, do AC/DC. O goleiro Zetti, com passagens por Santos, São Paulo e Seleção Brasileira, chegou a participar de uma matéria na TV com os músicos do Iron Maiden. “Costumava ouvir sempre antes dos jogos. Eu escutava do espaço da preleção até o momento de colocar a luva, no aquecimento, sempre estava com fone de ouvido. Era walkman, não tinha mp3 ou Ipod. Eu era uma exceção, com certeza. Poucos gostavam. Escutava mais sozinho”, declarou o hoje treinador. Ronaldo Giovanelli, ex-goleiro do Corinthians e comentarista, chegou a cantar em sua banda, “Ronaldo e os Impedidos”, numa linha mais Elvis Presley. Tiago, goleiro do Bahia, também curte música pesada: em seu iPod, sempre rola Metallica ou Aerosmith.

Deola, do Palmeiras, também não abre mão de ouvir Pearl Jam ou Ozzy. Quase sempre sozinho. “Ah, a gente tem que se acostumar. Já foi mais difícil, antes os caras faziam aquelas rodinhas de pagode e tal. Mas a gente tem que respeitar, e eu fico no meu cantinho ouvindo o meu rock”.

Sócrates, Casagrande e Wladimir eram figurinha carimbada nos shows de Rita Lee na época da Democracia Corinthiana. Uma reportagem antiga do Globo Esporte mostra Casagrande falando quais shows veria no Rock in Rio de 1985: “Ozzy, Iron Maiden, AC/DC, Queen, Whitesnake, Scorpions… Só som pesado, meu!”

O caso mais curioso, contudo, é o de Paul Di’Anno. O cantor, que ficou famoso por ter participado da formação que gravou os dois primeiros álbums do Iron Maiden, no começo dos anos 80, é corinthiano fanático. “Sou corinthiano e estou muito contente. Gosto do time porque a torcida lembra minhas origens. Existe um clube semelhante na região em que eu cresci na Inglaterra. O Corinthians tem muito a ver com o lugar”, afirmou Di’Anno. Sua relação com o Brasil é muito estreita. Ele já fez shows por quase todo o território nacional e foi casado com uma brasileira, com quem tem um filho. Mas não pense que ele é um “torcedor de ocasião”! O vocalista torce para o Timão já desde meados de 1995 e sempre exibe, com orgulho, sua carteirinha da Gaviões da Fiel. “Corinthians, campeão! Nós merecemos! Nós somos os maiores e melhores do Brasil! No entanto, este titulo foi comemorado com a tristeza da morte do nosso ídolo Sócrates. Ele foi o sangue e a raça da nossa equipe. Ele era Corinthians! Descanse em paz, maestro do Timão”, declarou ele, logo após o título. Seus shows são cheios de provocações aos rivais e gritos de torcida. Mais Zona Leste, impossível!

Quem sabe, na inaguração do estádio em Itaquera, os fãs de rock and roll não são presenteados com uma festa de abertura capitaneada pelo Van Halen, por exemplo, ou o próprio Di’Anno? Sonhar não custa nada!

Paul Di'Anno: corinthiano de ferro!

Raul, Maloqueiro e Sofredor, Graças a D-us

Categorias:Corinthians, Torcida

Aula pro Peixe, aula pra gente

18 de dezembro de 2011 Deixe um comentário

Primeiros minutos de jogo e o Peixe já cheirava mal. “Estão nervosos”, pensei. Mas aos poucos percebi que não era o Santos que estava amarelando e pregando um papelão… Era o Barcelona que se multiplicava e espremia o Leão do Mar impedindo qualquer passe de bola decente, o mais fundamental que fosse. Reduzindo brutalmente os espaços e rebaixando a baleia ao status de sardinha, diante de um gigante predador da Catalunha. Aos 16 minutos, Messi já havia feito um golaço, seguido por Xavi aos 23, e Fàbregas aos 44 do primeiro tempo. Naquele ponto, jogadores santistas já tinham consciência de que estavam só à passeio. O Barça colocou pra dançar os meninos da vila, como no bobinho. Nos outros 45 minutos ainda deu pra mais um do Messi. Amargo 4×0…

E onde estava Neymar? O garoto sucumbiu não só à pressão e à responsabilidade, como também à deficiência técnica de sua equipe que não foi capaz de oferecer-lhe uma bola com qualidade. Quando finalmente Ganso descolou um bom lançamento, Neymar perdeu a chance de diminuir o placar. Nas raras vezes em que esteve com a bola, o nosso craque foi prensado pela forte marcação de Puyol. Para onde foram os dribles e os recursos mágicos?  O discreto penteado de Messi e suas comemorações normais acabaram ofuscando mais uma vez o futebol alegre…

Ainda que, supostamente, o Santos vencesse o Barcelona e levasse para Vila a taça de campeão mundial, eu ainda perguntaria, de um jeito de Carmem Miranda, o que é que esse time tem? Tem Neymar, o melhor jogador brasileiro da atualidade, tem. Tem Ganso, um armador acima da média, tem.  Tem tradição e camisa, tem.  Bom… Mas isso não é o bastante para estar no topo. Basta comparar jogador por jogador do time praieiro e do catalão e ver que Santos tem Neymar e Ganso, e o Barça tem Messi, Iniesta, Fàbregas, Xavi, Daniel Alves, Pedro, Thiago Alcântara… (Jamais colocaria Mascherano nessa lista, pois o considero um açougueiro. Para mim ele está para o Barça assim como Pepe está para o Real e Domingos, emprestado pelo Santos, está para o São Caetano).

Grandes craques precisam de uma grande equipe. Pelé ou Zico, ambos tinham por trás um grande coletivo. Como seria o Messi jogando pelo Atlético-MG?

Claro, ter Borges e Arouca em boa fase contribuiu e muito para que o Peixe conquistasse a América e chegasse à final do Mundial contra uma das melhores equipes do futebol na História. Mas acontece que, como equipe, o Santos não está muito acima dos outros grandes clubes brasileiros. Criou-se uma expectativa gigantesca de que Muricy e seu time seriam capazes de fazer o que José Mourinho e o Real Madrid, mesmo que com alguns lampejos de sabedoria, quebram – e perdem – a cabeça frequentemente, mas não fazem: Parar o Barcelona.  E mais uma vez nós, tupiniquins, tropeçamos nas nossas expectativas, pois ainda acreditamos esquizofrenicamente que, na bola, nenhum europeu ganha de nós. É, só às vezes… Como diria o jornalista Leonardo Narloch no Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, o nosso país é aquele paciente que sofre de “diversos males psicológicos. Bipolar, oscilaria entre considerações muito negativas e muito positivas de si próprio”. Nós ainda acreditamos que somos os melhores. E, quando acontece o que aconteceu hoje no Japão, arrasados, preferimos lamentar e afirmar “eles serão sempre melhores que nós” ou “o nosso futebol morreu”, ao invés de tentar aprender alguma coisa da aula que passaram.

Sim, foi sim uma aula de futebol. Daí, em certo ponto, eu comentei com meu marido sobre o Palmeiras… Como pode um time que se sustenta de uma mesma jogada, de bola parada, chamar o que faz de futebol?

O futebol que conhecemos deve ser reformulado, deve evoluir. Por que não seguir o exemplo dos melhores? Por que não nossos grandes clubes determinarem um conceito claro de futebol e investir na base, à exemplo do Barça? Daí podem dizer, “mas o Barcelona teve sorte de contar com uma geração acima da média”. E quantos excelentes jogadores nós frequentemente formamos? Estamos aprendendo, à exemplo do próprio Santos e com o respaldo de fatores financeiros, a segurar nossas revelações no país para que não sejam precocemente esquecidos nas terras geladas do velho continente. Já é um grande passo. No entanto, ainda nos falta maturidade para entender que o futebol canarinho precisa crescer. Assim, não seremos apenas viúvas de um passado glorioso.

 

Não deu Neymar...

Larissa, Raposa Guerreira

Categorias:Brasileiro, Espanhol

Presentes…

13 de dezembro de 2011 Deixe um comentário

… então, amor… Aniversário de casamento chegando, pois eu tenho algumas sugestões… (Daí eu paro de usar a camisa que eu te dei da França.)

Larissa, Raposa Guerreira


Categorias:Torcida

Presente

13 de dezembro de 2011 Deixe um comentário

…e ontem, meu aniversário, ganhei da minha esposa:

Mas tou achando que sou quem menos vai usar…

Obrigado, amor!

Raul, Maloqueiro e Sofredor, Graças a D-us

Categorias:Torcida

Ibracadabra!

13 de dezembro de 2011 4 comentários

Domingo, dia de almoço e futebol em família. A Sportv transmitiu Bologna X Milan, belo jogo pela 15ª rodada do Campeonato Italiano (terminou empatado em 2 a 2). Logo aos 3min do primeiro tempo, o craque sueco Zlatan Ibrahimović mandou uma cobrança de falta na trave bolognesa. O narrador e o comentarista, então, lembraram as declarações de Ibra no começo da semana. Em entrevista a uma emissora francesa, o craque disse não se importar com o fato de não ter sido indicado para o prêmio “Bola de Ouro” da FIFA.

“Na minha cabeça, eu sou o melhor de todos. Eu não preciso da Bola de Ouro para provar que sou o número um”.

O narrador e o comentarista não perdoaram. Disseram que “só na cabeça dele” Ibra poderia ser o melhor do mundo. “Não é mau jogador, mas…”

Dizer que Ibrahimović “não é mau jogador” é o mesmo que dizer “o Guardiola até que não é ruim”. Minha esposa, notando minha revolta, logo emendou: “Mas você é o maior defensor do Ibrahimović que eu conheço!”

Olha… Sou mesmo.

Filho de humildes pai bósnio muçulmano e mãe croata católica, também tem sangue cigano. Fã da Seleção Brasileira, forrava as paredes de seu quarto com pôsteres de Ronaldo Fenômeno, tendo a oportunidade não só de enfrentá-lo quando estava na Inter de Milão (Ronaldo jogava pelo Milan) como de se tornar seu amigo. Os dois moraram no mesmo prédio em Milão.

Poderia ter defendido as seleções da Croácia ou da Bósnia, mas o jovem Ibra escolheu, aos 20 anos, defender a Suécia. Apesar de ser um dos grandes nomes do futebol sueco de todos os tempos, não é uma unanimidade por lá: como é, infelizmente, muito comum na Europa, partidários de extrema-direita de seu país não o vêem como sueco. Seu ego e as regalias que recebe na seleção também não ajudam muito: um forte costume local, o Jantelagen, ensina justamente a humildade, não colocando-se acima dos outros. Mesmo assim, é um grande ídolo entre os jovens de seu país e dos clubes por onde passou. E que clubes!

O primeiro foi o Malmö, um dos maiores da Suécia, que ajudou a tirar da segunda divisão. Em seguida foi para o Ajax, da Holanda, como o mais caro jogador sueco da história. Foi então para a Juventus de Turim, após marcar um gol de calcanhar contra a Itália na Eurocopa, onde obteve grande destaque. La Vecchia Signora, porém, se viu envolta num escândalo de manipulação de resultados e perdeu os títulos das temporadas 2004/2005 e 2005/2006 que conquistara com Ibra. Dali partiu para o grande rival, a Internazionale de Milão, o que despertou a ira dos torcedores bianconeri.

Transferiu-se para o Barcelona, que já se tornava uma potência européia. Porém, o talentoso sueco não podia aceitar que a estrela do time fosse um argentino baixinho. Afinal, era uma honra para o Barcelona contar com tão incrível jogador… Insatisfeito com o técnico, com o ambiente, enfim, com tudo, transferiu-se, desta vez, para o grande rival da Internazionale, o Milan.

Exímio na distribuição de jogadas, finaliza muito bem, é rápido e criativo. Coleciona gols, títulos e polêmicas, como sua autobiografia (sugestão de presente pra mim!), onde acusa o técnico do Barcelona, Pep Guardiola, de ter medo de José Mourinho. Em seus primeiros dias de Milan, acertou um chute em seu colega Christian Wilhelmsson e também na cabeça do atacante Cassano – no meio de uma entrevista. Ibra é faixa preta de tae kwon do.

Foi campeão por todos os clubes que passou, artilheiro inúmeras vezes e não se cansa de ter grandes atuações. Pra mim, só é comparável a Ronaldo, Romário e Batistuta.

Infelizmente, nasceu na Suécia. A exemplo de Cristiano Ronaldo, Stoichkov, Puskas e tantos outros grandes, não tem chance nenhuma de vencer uma Copa do Mundo por ser, digamos, “geograficamente incorreto”. Mas seu talento, seus gols (e sua marra) vão ficar para a posteridade. O negócio é torcer pra daqui uns anos o Corinthians resolver contratá-lo para encerrar a carreira aqui. Podem ter certeza que vou estar na primeira fila pra ver o cara!

Em tempo: “zlatan” significa “brilho”.

"Achava o Barcelona pequeno, então saí."

Raul, Maloqueiro e Sofredor, Graças a D-us

Categorias:Calcio, Mídia Esportiva

Armando Nogueira, futebol e eu, coitada

10 de dezembro de 2011 1 comentário

Neste dia 10 de Dezembro em que Clarice Lispector, uma das maiores escritoras da Língua Portuguesa e, sem dúvida, a mais intrigante e misteriosa, completaria 91 anos, o Futebol em Família presta sua homenagem publicando a crônica que a autora escreveu sobre futebol. Vida e humanidade são os temas de sua grandiosa obra literária. Embora não entendesse muito bem desse esporte bretão, Clarice nos oferece nesta crônica a confissão de um episódio dramático e divertido de uma torcedora botafoguense cujo um dos filhos é flamenguista…

“E o título sairia muito maior, só que não caberia numa única linha. Não leio todos os dias Armando Nogueira – embora todos os dias dê pelo menos uma espiada rápida – porque “meu futebol” não dá pra entender tudo. Se bem que Armando escreve tão bonito (não digo apenas “bem”), que às vezes, atrapalhada com a parte técnica de sua crônica, leio só pelo bonito. E deve ser numa das crônicas que me escaparam que saiu uma frase citada pelo Correio da Manhã, entre frases de Robert Kennedy, Fernandel, Arthur Schlesinger, Geraldine Chaplin, Tristão de Athayde e vários outros, e que me leram, por telefone. Armando dizia: “De bom grado eu trocaria a vitória de meu time num grande jogo por uma crônica…” e aí vem o surpreendente: continua dizendo que trocaria tudo isso por uma crônica minha sobre futebol.

Meu primeiro impulso foi o de uma vingança carinhosa: dizer aqui que trocaria muita coisa que me vale muito por uma crônica de Armando Nogueira sobre digamos a vida. Aliás, meu primeiro impulso, já sem vingança, continua: desafio você, Armando Nogueira, a perder o pudor e escrever sobre a vida e você mesmo, não posso perdoar que você trocasse, o que significaria a mesma coisa.

Mas, se seu time é Botafogo, não posso perdoar que você trocasse, mesmo por brincadeira, uma vitória dele nem por um meu romance inteiro sobre futebol.

Deixe eu lhe contar minhas relações com futebol, que justificam o coitada do título. Sou Botafogo, o que já começa por ser um pequeno drama que não torno maior porque sempre procuro reter, como as rédeas de um cavalo, minha tendência ao excessivo. É o seguinte: não me é fácil tomar partido em futebol – mas como poderia eu me isentar a tal ponto da vida do Brasil? – porque tenho um filho Botafogo e outro Flamengo. E sinto que estou traindo o filho Flamengo. Embora a culpa não seja toda minha, e aí vem uma queixa contra meu filho: ele também era Botafogo, e sem mais nem menos, talvez só para agradar o pai, resolveu um dia passar para o Flamengo. Já então era tarde demais para eu resolver, mesmo com esforço, não ser de nenhum partido: eu tinha me dado toda ao Botafogo, inclusive dado a ele minha ignorância apaixonada por futebol. Digo “ignorância apaixonada” porque sinto que eu poderia vir um dia apaixonadamente a entender de futebol.

E agora vou contar o pior: fora as vezes que vi por televisão, só assisti a um jogo de futebol na vida, quero dizer, de corpo presente. Sinto que isso é tão errado como se eu fosse uma brasileira errada.

O jogo qual era? Sei que era Botafogo, mas não me lembro contra quem. Quem estava comigo não despregava os olhos do campo, como eu, mas entendia tudo. E eu de vez em quando, mesmo sentindo que estava incomodando, não me continha e fazia perguntas. As quais eram respondidas com a maior pressa e resumo para eu não continuar a interromper.

Não, não imagine que vou dizer que futebol é um verdadeiro balé. Lembrou-me foi uma luta entre vida e morte, como de gladiadores. E eu – provavelmente coitada de novo – tinha a impressão de que a luta só não saía das regras do jogo e se tornava sangrenta porque um juiz vigiava, não deixava, e mandaria para fora de campo quem como eu faria, se jogasse (!). Bem, por mais amor que eu tivesse por futebol, jamais me ocorreria jogar… Ia preferir balé mesmo. Mas futebol parecer-se com balé? O futebol tem uma beleza própria de movimentos que não precisa de comparações.

Quanto a assistir por televisão, meu filho botafoguense assiste comigo. E quando faço perguntas, provavelmente bem rolas como leiga que sou, ele responde com uma mistura de impaciência piedosa que se transforma depois em paciência quase mal controlada, e alguma ternura pela mãe que, se sabe outras coisas, é obrigada a valer-se do filho para essas lições. Também ele responde bem rápido, para não perder os lances do jogo. E se continuo de vez em quando a perguntar, termina dizendo embora sem cólera: ah, mamãe, você não entende mesmo disso, não adianta.

O que me humilha. Então, na minha avidez por participar de tudo, logo de futebol que é Brasil, eu não vou entender jamais? E quando penso em tudo no que não participo, Brasil ou não, fico desanimada com minha pequenez. Sou muito ambiciosa e voraz para admitir com tranqüilidade uma não participação do que representa vida. Mas sinto que não desisti. Quando a futebol, um dia entenderei mais. Nem que seja, se eu viver até lá, quando eu for velhinha e já andando devagar. Ou você acha que não vale a pena ser uma velhinha dessas modernas que tantas vezes, por puro preconceito imperdoável nosso, chega à beira do ridículo por se interessar pelo que já devia ser um passado? É que, e não só em futebol, porém em muitas coisas mais, eu não queria só ter um passado: queria sempre estar tendo um presente, e alguma partezinha de futuro.

E agora repito meu desafio amigável: escreva sobre a vida, o que significaria você na vida. (Se não fosse cronista de futebol, você de qualquer modo seria escritor). Não importa que, nessa coluna que peço, você inicie pela porta do futebol: facilitaria você quebrar o puder de falar diretamente. E mais, para facilitar: deixo você escrever uma crônica inteira sobre o que futebol significa para você, pessoalmente, e não só como esporte, o que terminaria revelando o que você sente em relação à vida. O tema é geral demais, para quem está habituado a uma especialização? Mas é que me parece que você não conhece suas próprias possibilidades: seu modo de escrever me garante que você poderia escrever sobre inúmeras coisas. Avise-me quando você resolver responder a meu desafio, pois, como lhe disse, não é todos os dias que leio você, apesar de ter um verdadeiro gosto em ser sua colega no mesmo jornal. Estou esperando.”

(Clarice Lispector)

Crônica de 30 março 1968. In: A descoberta do mundo, p. 89-91.

Clarice, torcedora do Botafogo.

Categorias:Torcida Tags: